O que é um Zemog?

 

Confesso que não sei, jamais vi outro igual. Andei perguntando a esmo, aqui, acolá: “Você aí, pedestre, sabe o que é um Zemog?” Sempre encontrei respostas desaparafusadas, quando, raramente, as encontrei. Seria, então, Zemog um parafuso, uma mola? Por que aceitar ser o último da chamada na lista da escola? 

Creio que Zemog é feito de vento; daí ser difícil de agarrá-lo por definições precisas ou superficiais. Ele se esgueira, escapole, se liquefaz, surge-e-ressurge de mil formas como um malasartes. Quando menciono o vento, não quer dizer o vazio, mas a liberdade de se deixar penetrar: ver o lá fora, lá de dentro. Em outras palavras, Zemog é um catador de mundos, de coisas que a natureza ou o homem resolveu bolar. Quando elas são vistas – ferros, madeiras, restos, imprecisões, cascalho, retalhos – a memória de Zemog (o lá dentro) já olha para estas coisas transformadas, vendo nelas um amanhã diferente  do que haviam sido até aquele momento.

Num mundo tão falto e tão sequioso por ser “contemporâneo”, Zemog é... contemporâneo todos os dias. Todos os dias, o seu pique-esconde com a vida é o do inventar de coisas.

Memória, intuição e esperança. A obra de Zemog tem sido feita, desconjuntadamente, destes três ingredientes etéreos. Apesar de se plasmar por meio de objetos que se integram (ou desintegram), que se unem (ou se dissolvem), que se costuram (ou se esgarçam), Zemog é – parodiando a frase de Picasso sobre qualquer importante artista – “autor apenas de uma única obra”. Esta é que se dilui e se desfaz por meio de mil-e-uma-peripécias e formas de apresentação, como num balé contínuo.

O que importa em Zemog é a mais completa e absoluta transformação de tudo o que já foi – na memória do tempo e dos que passaram –  dando a este “tudo o que já foi” uma forma e uma aura de pura, filtrada, claríssima intuição.

O que Zemog faz com sua arte é exprimir a vida em estado puro. A vida não é senão o desejo de tocar o outro. Este outro pode ser um corpo. Ou pode ser uma coisa. Zemog é autor de coisas que tocam, por um ato de beleza, em nosso corpo.  Como a música, feita de vento, que sopra em nossa direção e infla o nosso desejo.

Por Leonel Kaz

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